Eram duas crianças a brincar. Amigos. Vizinhos.
Um desfrutava deprivilegiada situação social. Toda novidade em matéria debrinquedos lhe chegava, de forma rápida, às mãos. O outro era o amigo que, por conta justamente da amizade, desfrutavacom alegria desses pequenos prazeres da infância.
Naquele dia, a novidade era um trem. Nada sofisticado. Mas um trem decores vivas que, nas mãos dos garotos logo adquiriu vida. O trem ia de uma cidade a outra. Com rapidez. Recebia pessoas aqui,deixava outras ali.
Transpunha distâncias em segundos, naimaginação fértil dos petizes, dando quase a volta ao mundo. A geografia não importava muito. Em um momento, estavam numalocalidade. Em outro, tinham transposto o mar e se encontravam em outra.
Assim seguia a brincadeira, até o momento em que o amiguinhoresolveu que o trem deveria ficar mais tempo em suas mãos. Afinal, o dono do trem o detinha em demasia. Ele fazia as viagensmais longas, mais emocionantes. À conta disso, começou uma discussão. O trem é meu, então ficocom ele tanto tempo quanto quero! Mas eu sou seu amigo e seu convidado! Você tem que me deixar dirigiro trem. E uma pequena disputa se travou. Os dois meninos agarraram o trem,cada um puxando de um lado. Puxa daqui, puxa dali. O dono do brinquedo puxou com mais vigor. Caiue o brinquedo lhe bateu na fronte, ferindo-o de leve. Mas a dor da batida e um pequeno filete de sangue, que logo apareceu,fez com que o choro começasse. Acudiram mãe e pai. Ao ver o rosto do filho com um hematoma e osangue, o pai se tomou de ira, gritou com o visitante, fez-lheameaças. O garoto ficou parado, sem entender muito bem toda a questão, pelarapidez com que tudo acontecera. O amigo chorava, machucado. O pai o colocou ao colo e ia sepreparando para sair, rumo ao hospital. Afinal, pensava, era preciso verificar se algo mais grave nãoacontecera. Quando ia transpondo a porta, o ferido levantou o rosto que estavaapoiado ao ombro do pai, enxugou as lágrimas e gritou para oamiguinho ainda atônito, sentado no chão: Ei, não vá embora! Eu volto logo e vamos continuar a brincar. Então, o pai se deu conta do estardalhaço que fizera por poucacoisa. Limpou o rosto do filho ele mesmo e o entregou de volta à brincadeira.
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O fato é mais corriqueiro do que se imagina. Em verdade, pequenas rusgas surgem entre as crianças. Rusgas que parecem prestes a explodir em agressão. Entre os adultos, nos envolvemos em situações semelhantes, muitas vezes. Mas, deveríamos aprender com as crianças, esquecendo logo adificuldade e retornando ao convívio da amizade ou do trabalho. Razão tinha mesmo Jesus ao nos dizer que deveríamos nos assemelharàs crianças para conquistarmos o Reino dos Céus. O Reino dos Céus que se traduz em paz e começa na intimidade decada um.
Redação do Momento Espírita, a partir de pequena história narradapor Divaldo Pereira Franco, no Encontro fraterno com Divaldo PereiraFranco, realizado em Guarajuba/BA, de 4 a 7 de setembro de 2010.